No dia 19 de janeiro, se não me engano, a Rede Globo lançou sua nova novela das nove: "Caminho das Índias". Duas semanas depois, o folhetim já estava na boca do povo que comentava chocado as tradições indianas, como os casamentos arranjados e o hábito de venerar as vacas por serem consideradas sagradas.
Confesso que nunca estive na Índia, mas tive a oportunidade de viver na Escócia entre junho de 2004 e janeiro de 2005. Apesar da Índia ter conquistado a independência dos ingleses no fim da década de 1940 * , os dois povos ainda mantêm laços fortíssimos. Na Escócia, assim como nos outros lugares do Reino Unido que visitamos, é comum vermos indianos dos mais diversos grupos religiosos por todos os lugares. Os jovens da Grã-Bretanha temem por seus empregos, já que os indianos têm chegado por lá muito bem preparados para disputar postos de trabalho ou vagas nas melhores instituições universitárias do país. Assim como mostra na novela, os call centers ingleses são mesmo na Índia e era comum ouvir colegas escoceses comentando que quando ligavam para um 0800 solicitando alguma informação sabiam que estavam sendo atendidos em algum ponto distante na Índia.
Durante o tempo que passei no velho mundo tive a oportunidade de ficar amiga de inúmeras indianas, entre elas, a Dhanya. Agora já não me lembro mais de que cidade da Índia ela era, mas a conheci no hotel em que morei logo que chegamos em Glasgow. Dhanya era simpática, alegre e comunicativa. Seu marido trabalhava em um navio e eles estavam de mudança para a Escócia. Na ocasião em que a conheci ela estava no país cuidando dos preparativos para a chegada do marido e sua filha de três anos.
Me lembro que era verão e o sol se punha lá pelas onze da noite e passei várias tardes ensolaradas mas frias com a Dhanya. Juntas íamos aos parques da cidade, lojas ou ficávamos à toa conversando no hotel. Durante essas semanas ela me mostrou uma cultura que se outra pessoa me contasse ou se eu visse em um filme não acreditaria, assim como acho que a deixei impressionada ao contar que aqui no Brasil dois jovens podem sim se conhecer em uma danceteria, se beijarem nesse primeiro encontro e acabarem casando como aconteceu comigo e o Daniel.
Dhanya casou-se sem conhecer seu marido. Ou melhor, o conheceu quando tudo já estava arranjado entre as famílias. Como se fosse a coisa mais natural do mundo (para ela de fato era!), ela me contou como escondida na cozinha pediu para que sua irmã visse o pretendente e voltasse para contar suas primeiras impressões. Assim como ela se divertiu com as minhas aventuras, eu me encantei ao descobrir que apesar do inglês e do hindi que era falado pela duas famílias, cada uma também falava outros dialetos e me espantei quando ele perguntou se minha família e a do Daniel falavam o mesmo idioma.
Os diversos dialetos e as relações amorosas são só dois aspectos das diferenças entre nós brasileiros e os indianos. Nessa temporada escocesa também conhecemos outros indianos que ao narrarem seu dia-a-dia em sua terra natal nos levaram a lugares inimagináveis e cheios de peculiaridades que nossos preconceitos impediam de enxergar sem julgar.
* Para quem se interessar pelo assunto eu recomendo o livro "Paixão Índia", escrito por Javier Moro e lançado no Brasil pela Editora Planeta. O livro na verdade narra a história de amor entre uma dançarina espanhola e um marajá indiano, mas que tem como pano de fundo inúmeros acontecimentos interessantes acontecidos na Índia dominada pelos ingleses. Também tem um filme de Bollywood, "Bride and Prejudice", que é super divertido e mostra a Índia colorida e musical (http://tinyurl.com/brideandprejudice)
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